22 fevereiro 2011

Por trás das borbulhas: livro revela história da criadora do champanhe Veuve Clicquot

Empresária furou embargo comercial e mandou carregamento clandestino para tropas russas


Por trás da bebida que é hoje ícone de glamour e prestígio está Barbe-Nicole Clicquot. Esta senhora austera e de traços rígidos foi responsável pela criação que cativou os maiores apreciadores das borbulhas de espumantes: o Veuve Clicquot. A história da Barbe-Nicole é retratada na biografia A Viúva Clicquot, de Tilar J. Mazzeo, editado pela Rocco.

Os apreciadores de champanhe devem muito à viúva Clicquot. Quando se viu só no mundo, ela soube tomar as rédeas da família e tocar a empresa do falecido —  isso numa época em que mulheres e negócios não se misturavam. Seu tino ajudou a transformar as borbulhas do espumante em símbolo de luxo.

Graças a ela e a outros empresários pioneiros, como Jean-Rémy Moët, houve um salto fantástico na produção e no consumo de Champanhe entre as décadas de 1790 e 1830. Ela expandiu o mercado e investiu na técnica de sedimentação de impurezas — procedimento que revelou o brilho dourado da bebida.

— Sua genialidade nos negócios estava em se recusar a ver suas opções em preto e branco. Seu retrato é o de uma mulher com a coragem emocional, física e financeira de aproveitar brechas —  explica a autora.

Tanto arrojo na vida pública não a impediu de ser conservadora em assuntos privados. Educada em um convento, era católica fervorosa, embora às escondidas - já que a Revolução Francesa havia banido, ainda em 1789, toda e qualquer forma de manifestação religiosa.

Apesar de trabalhar com homens e chefiar muitos deles, fez questão que a filha se mantivesse afastada das adegas. A viúva não teve escrúpulos ao despachar a herdeira para um colégio interno em Paris e, mais tarde, arrumar-lhe um casamento com um eminente aristocrata.

Revelações do livro

:: Revolução burguesa
Barbe-Nicole viveu em um período conflituoso. Nascida em 1772, era adolescente quando o Antigo Regime foi derrubado. Seu pai, o empresário Nicolas Ponsardin, abandonou o catolicismo para se tornar um líder jacobino de inclinação republicana. A família chegou a receber em casa o então cônsul Napoleão Bonaparte e sua mulher, Josefina. O marido de Barbe-Nicole, François Clicquot, também tinha origem abastada. Diferentemente da maioria dos homens da época, ele conversava com a mulher sobre negócios e levava em conta sua opinião. Foi assim que Barbe-Nicole aprendeu sobre uvas, fermentação e transporte de mercadorias.
:: Espumas da paz
O ano de 1811 foi perfeito para a produção de uvas. Com condições climáticas favoráveis, a colheita foi excepcional e o Champanhe, primoroso. Atenta ao excesso de oferta, a viúva adotou a estratégia de utilizar parte da safra para produzir espumantes que só ficaram prontos nos anos seguintes. Com o fim das guerras napoleônicas, em 1815, os soldados da coalizão, principalmente os russos, redescobriram o vinho francês e o Champanhe. A quantidade de vinho exportado, que até então não ultrapassava os 400 mil litros por ano, saltou para 5 milhões. Mas a senhora Clicquot foi além. Ela bancou o envio à Rússia de um grande carregamento clandestino. Furando o embargo comercial, 11 mil garrafas foram vendidas em uma tacada.
:: Técnica transformadora
Pouco antes de se aposentar, a viúva legou à posteridade uma grande inovação: o processo de remuage, para sedimentação das impurezas. O nome designa a colocação das garrafas num ângulo inclinado, com rotações periódicas, para que todos os resíduos da primeira fermentação se depositem no gargalo e saiam com a retirada da rolha provisória. Antes, o método usado era o de transvasage, em que o espumante era trocado de garrafa, o que desperdiçava líquido e espuma. Resultado: o remuage é usado até hoje.
:: Longe das estrelas
Ao contrário do que se convencionou dizer, a biografia da viúva Clicquot descarta a história de que o espumante tenha nascido das experiências do monge francês Dom Pierre Pérignon. A frase "Estou bebendo estrelas!" nunca teria sido pronunciada. A versão teria surgido depois da morte de Dom Pérignon, como uma estratégia de marketing da indústria de Champanhe, no fim do Século 19. Segundo as pesquisas da autora, o crédito pela criação da bebida nem é francês. Ela teria sido descoberta por acaso na Inglaterra, onde se adicionava açúcar ao vinho para manter a fermentação.
:: Nos copos de Luís XVI e Napoleão
Apesar de ser uma bebida apreciada há cerca de 350 anos, o Champanhe de hoje nada se assemelha ao bebericado por Luís XVI ou pelo imperador Napoleão Bonaparte. Antes da técnica de remuage, a bebida era turva e acobreada, levando o nome de vin mousseu (vinho espumante). O gosto também era diferente, devido à alta concentração de açúcar necessária para fazer as borbulhas. Para se ter uma ideia, a maior concentração aceitável hoje é de 20g de açúcar residual. À época, a média era de 200g. Por isso, a bebida era considerada uma sobremesa.
A Viúva Clicquot

Autora: Tilar J. Mazzeo

Editora: Rocco
Páginas: 304
CORREIO BRAZILIENSE

Um comentário:

  1. Blog lindo!!!
    Conheci através do Croqui ... Parabéns!
    Beijos,Priscyla B.

    www.priveebypri.blogspot.com

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